sábado, 20 de agosto de 2011

Redes sociais e o medo de uma nova bolha da internet



Corrida da web 2.0 à bolsa desperta temores de outro equívoco na precificação de empresas jovens. A diferença é que, desta vez, o mercado está vacinado, diz analista.

O preço das ações não parava de subir. A fila de empresas abrindo capital também não ficava menor. Os investidores viviam o esplendor das “pontocom", mas o final da história é conhecido: a bolha do ano 2000 não resistiu à corrida ingênua para os investimentos virtuais. Exatos 10 anos depois, o mercado financeiro assiste à maior onda de IPO’s ligados à web desde a bolha. O déjà vu é capitaneado pela especulação em torno da abertura de capital de gigantes da web 2.0, como Twitter e Facebook.

Uma segunda bolha estaria à caminho? Para um mercado já treinado em farejar problemas, a resposta é não. É o que diz o analista Lou Kerner, chefe de análise em mídias sociais e e-commerce da Wedbush Securities, banco de investimentos americano. “Há um melhor entendimento hoje dos riscos e recompensas de abrir capital e de comprar IPO’s”.

Para Kerner, não há mais o cenário clássico de um startup que recebe muito dinheiro sem oferecer nada mais do que uma promessa. “Não apenas o número de usuários, mas o engajamento dos visitantes e seu tempo de navegação são um farol para perceber o potencial de receita de um site”. Confira nas próximas páginas sete redes sociais e websites que lideram a ofensiva da web 2.0 no mercado financeiro.


Poucos IPOs são tão antecipados e aguardados como o do site de Mark Zuckerberg. Antes mesmo de qualquer sinalização oficial da companhia, as ações da empresa já são negociadas no mercado secundário, que calculou uma média de 76 dólares por ação do site em agosto de 2010, o que sugere um valor de mercado de 33,7 bilhões de dólares.

As discussões recentes trazem pistas mais claras sobre o futuro da empresa no mercado: o integrante do conselho de administração Peter Thiel sinalizou o interesse da companhia em abrir capital até o final de 2012. A celeridade do processo depende da capacidade da empresa de atingir a meta de receita e do desenvolvimento do modelo de negócios, diz o conselheiro. O Facebook, rede social idealizada por Mark Zuckerberg e seus amigos em um dormitório de Harvard em 2004, é uma empresa privada com poucas pistas de suas informações financeiras.


Possuir uma fatia do fenômeno global gerado pelo microblog é desejo antigo dos investidores. Mas o Twitter não tem alimentado as esperanças quanto à abertura de capital: sempre que se pronunciou a respeito, o conselho de administração da companhia afastou dos horizontes os planos sobre IPO.

Em entrevista recente à Bloomberg, o novo CEO da companhia, Dick Costolo, reafirmou a intenção de fortalecer o modelo de negócios da empresa antes da entrada no mercado. “Um IPO ainda está muito distante do nosso foco. Temos de investir primeiro em nossa valorização. Criamos uma marca global, com talvez um dos mais rápidos crescimentos da história. Agora temos de construir o negócio que faz jus à essa valorização”.

De fato, 2010 marcou a virada do Twitter no uso de anúncios e posts patrocinados, além do oferecimento de um banco de dados de tráfego e conteúdo para uso comercial. Em setembro deste ano, o site recebeu cerca de 100 milhões de dólares de financiamento dos fundos T. Rowe Price Group Inc., Insight Venture Partners, Spark Capital, Institucional Venture Partners e Benchmark Capital.


Sem fazer muito barulho, a Zynga foi, a cada novo projeto, mostrando a visão necessária para tirar proveito do que há de mais rentável da união de redes sociais e jogos. A criadora de games de sucesso como Farmville e Mafia Wars já provou ser capaz de gerar grandes audiências. De acordo com a empresa, 240 milhões de pessoas jogam o Farmville diariamente.

A expectativa pelo IPO da companhia aumentou com o anúncio da contratação de David Wehner para o cargo de CFO (Chief Financial Officer). Antes, Wehner ocupava um cargo no banco de investimentos Allen & Company, instituição especializada em lidar com empresas de tecnologia e mídia. Como diretor geral, o executivo comandou várias operações de aumento de capital e de fusões e aquisições.

Para o analista Lou Kerner, a Zynga é um dos símbolos da era da web rentável na bolsa. Mesmo com produtos de hiper nicho, elas não representam perigo potencial, defende Kerner. "Games sociais são claramente a onda atual em jogos eletrônicos. Mesmo com poucos jogadores comprando bens virtuais, diante do crescimento sem paralelo, a empresa pode ser altamente rentável. É claramente do melhor interesse do Facebook ter um ecossistema de games sociais vibrante em sua rede”.


Desconhecida da maioria dos brasileiros, o Hulu cresce rapidamente nos Estados Unidos como agregador de filmes e programas de TV na internet. Ancorado na audiência de séries como “Glee” e “Modern Family”, o serviço, lançado a três anos, conta como apoio de alguns dos estúdios e redes de TV mais importantes dos EUA.

Rumores sobre uma oferta inicial de ações da companhia circularam pelo mercado em agosto desse ano, quando fontes ligadas à empresa relataram ao New York Times a intenção de ir à público com uma oferta que, à época, avaliava a companhia em 2 bilhões de dólares. O Hulu estaria em conversas com bancos de investimentos sobre a uma oferta de ações até o final de 2010.

Atualmente, o controle do site está nas mãos das redes de TV NBC, Universal, da General Electric, ABC, da Walt Disney, Fox Networks, News Corp, além do grupo de private equity Providence Equity Partners.


Com a proposta de criar uma rede social para fins profissionais, o LinkedIn já ultrapassou a fronteira dos 80 milhões de usuários registrados. O crescimento atrai as atenções do investidores e o próprio diretor-presidente da companhia, Jeff Weiner, já admitiu ter conversado com bancos sobre estratégias de mercado, embora não avalie especificamente a abertura de capital da companhia.

Segundo ele, essas conversas não seriam caracterizadas “especificamente sobre um IPO". Recentemente, em 23 de setembro, o LinkedIn fechou a compra da ChoiceVendor, uma pequena provedora de avaliações e ratings de companhias. Segundo o presidente-executivo da rede social, a empresa agora conversa com banqueiros sobre outras "oportunidades".

"Dado nosso crescimento este ano, há muitas oportunidades para nós e, portanto, há um número de empresas, banqueiros e outras pessoas interessadas em conversar conosco sobre onde estamos caminhando estrategicamente e se podem nos ajudar de alguma forma", disse o executivo.


Desde o seu IPO em janeiro em 2009, o Open Table, um site simples de reserva de mesas em restaurantes, vem concentrando olhares admirados do mercado. O portal viu triplicar o valor de suas ações - de 20 dólares no IPO, para cerca 63 dólares no fechamento do dia 6 de outubro.

Para muitos, a decolagem do site é um exemplo claro do retorno da febre do Vale do Silício, com empresas pouco conhecidas recebendo investimentos estratosféricos antes de desabar de volta à realidade. Para outros, a conquista do valor de mercado por volta de 1,5 bilhão de dólares apenas reflete uma base de consumidores crescente, aliada à gestão inteligente e um registro sólido de lucros.

Se a companhia do CEO Jeff Jordan, fundador do eBay, faz jus ao burburinho que gera, isso ainda é um mistério. Mas o site certamente lança luz ao potencial do e-commerce 2.0 e suas possibilidades de negócio.


Dentre seus pares, o serviço de telefone e vídeo pela internet é o que deu sinais mais claros do desejo de abrir capital a curto prazo. Em agosto, o Skype subscreveu um pedido de oferta pública inicial nos Estados Unidos. No entanto, ainda paira certa incerteza sobre quando será capaz de dar seguimento ao cronograma.

Já como parte do processo do IPO, a companhia substituiu recentemente seu antigo CEO, Joshua Silverman, por Tony Bates, executivo do alto escalão da Cisco Systems. Bates ,responsável por uma receita anual de 20 bilhões de dólares e pela administração de mais de 12.500 funcionários em todo o mundo, assumirá o cargo em dezembro.

Em novembro passado, a Silver Lake Partners, uma empresa de tecnologia focada em private equity, liderou um grupo que adquiriu uma participação majoritária no Skype, avaliando a companhia em 2,75 bilhões de dólares. Os proprietários minoritários incluem o eBay, que manteve 30%da empresa; os fundadores do Skype, a quem foi atribuída uma participação de 14% como parte de um acordo judicial com a empresa, e o empresário Marc Andreessen, que possui uma fração do negócio através de sua empresa de capital de risco.

In Exame, por Mirela Portugal.

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