terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Imersa em tecnologia, a geração Y desafia a TI

por Roberta Prescott

A nova geração, que começa a desembarcar nos quadros das empresas, questiona o modo tradicional das companhias de trabalhar

Eles são, dinâmicos, “antenados” e familiarizados com diversas tecnologias, afinal, cresceram navegando na internet em busca dos mais diversos conteúdos. Aliás, fazer várias coisas ao mesmo tempo é uma característica forte, até porque eles não têm paciência para atividades muito longas. Trabalham melhor em equipes, anseiam por flexibilidade de horário e mobilidade, necessitam de feedbacks constantemente, demandam planos de carreira (querem ascender rapidamente) e esperam reconhecimento instantâneo de seu trabalho. Informais, não se intimidam ao expor idéias a seus chefes – o que não é de se estranhar, pois se acostumaram com o apoio e retaguarda dos pais. Esses traços lhe parecem familiar? Consegue identificar algum funcionário de sua empresa nessa descrição? Se a resposta foi sim – e deve ter sido, caso existam pessoas na casa dos 20 anos – prepare-se para lidar com a chamada geração Y, também conhecida por Millennium ou Net. Os estudiosos do assunto nos Estados Unidos estabelecem que integram esta geração os nascidos entre 1977 a 1997. Aqui no Brasil – e até porque acabamos refletindo a realidade norte-americana algum tempo depois – pode-se definir a partir da década de 1980.Extremamente “acelerados”, eles estão acostumados a ter uma resposta muito rápida, como se o tempo fosse escasso. Assim, podem preferir chats e mensagens instantâneas a e-mails. E é justamente neste ponto que alguns obstáculos começam a ser impostos para a TI. Toda organização é regida por normas e leis que têm por princípio resguardá-la. Ou seja, no ambiente de trabalho, entra a padronização e sai a liberdade de escolha. “No ecossistema deles, estes jovens têm acesso a “n” tecnologias que, normalmente, são bloqueadas no mundo corporativo, pois criamos barreiras”, lembra Luis Carlos Heiti Tomita, CIO da Philips para a América Latina.Somente a existência de limites seria suficiente para que qualquer membro da geração Y passasse horas tentando convencer o CIO sobre a injustiça das restrições e como elas o impedem de trabalhar – lembrem-se de que estes jovens querem ter flexibilidade e mobilidade para exercerem as suas funções e odeiam que decisões “burras” os impeçam de fazê-las. É preciso ponderar. E ninguém melhor que o diretor de TI para identificar os riscos para a companhia e criar políticas de segurança eficazes. Mas isto não basta. Estes jovens precisam entender o motivo das regras; e, uma vez (bem) justificadas, será mais fácil tê-los como aliados. Na Kimberly-Clark, usa-se o pacote da Microsoft como ferramenta-padrão, porém, constantemente, a equipe do gerente de informática, Paulo Biamino, tem de explicar aos usuários que eles não podem instalar software livre em suas máquinas. “Eles emitem a posição deles e eu, a da empresa. Nos cabe mostrar o porquê estamos fazendo aquilo e os benefícios. Eles vão questionar as ferramentas utilizadas, mas, se todos usassem o que acham melhor, não teríamos padronização”, explica.

Exigência O questionamento, inclusive, mostra-se como outro traço marcante da geração Millennium; e reflete no trabalho da TI, que se virá obrigada a repensar a maneira que entrega serviços e produtos. Esta geração cresceu acessando a internet e afeita às novidades tecnológicas, tendo familiaridade com computadores desde criança.

Por isto, seus representantes sentem-se confortáveis para discutir tecnologia em pé de igualdade com os profissionais de TI. Um impacto direto no service desk. “Há uma demanda maior por qualidade”, assinala Biamino.Contratar pessoas da geração Y para o service desk costuma ser uma manobra eficiente para equilibrar o atendimento do suporte com o restante da companhia – e até minimizar problemas de comunicação. “Não enrole este pessoal. Se não souber determinado assunto, é melhor dizer a verdade e buscar a resposta para não cair no descrédito”, ensina o principal executivo de TI para a Kimberly-Clark Brasil. A exigência desta turma extrapola as fronteiras do service desk. Junto com os pedidos de recursos que ofereçam a tão sonhada elasticidade para a realização de suas tarefas, eles querem maior capacidade de internet, de processamento, de desempenho e robustez dos equipamentos e utilização de objetos pessoais no ambiente corporativo, como o iPod. Atualmente, a Kimberly-Clark não permite instalação de softwares para uso pessoal, mas cada caso é analisado sob a óptica da segurança, legalidade e impactos para a empresa. “Estamos em mutação. Temos de manter a mente aberta. Por um lado, precisamos obedecer a política corporativa, mas, por outro, há uma demanda nascendo e temos de nos adequar”, contrapõe Biamino, de 51 anos e pai de dois jovens representantes desta nova geração. Há ainda a questão da segurança. A familiaridade com as tecnologias encoraja estes usuários a buscarem novidades e a “fuçarem” mais.

O que nem sempre combina com segurança. “Eles são mais ousados, aumentando o risco para as companhias, que ficam mais vulneráveis”, reflete Eliane Aere, diretora de RH e diretora-geral da Accor Services. Atender às expectativas desta parcela de funcionários requer jogo de cintura. Eles ficarão frustrados se não encontrarem o ambiente dos sonhos no trabalho. “Esta geração espera inovação, flexibilidade de horário, mobilidade e um processo de tomada de decisão muito ágil. O velho modelo de ‘recrutar, gerenciar e manter’ os empregados não funciona mais”, aponta Don Tapscott, diretor da New Paradigm e co-autor de Wikinomics e de outros dez livros.
(Leia a entrevista completa com Tapscott Geração net vai dominar força de trabalho)

No entanto, longe de liberar tudo o que eles estão acostumados (e desejam), uma opção que tem sido eleita pelos CIOs é repensar a infra-estrutura para avaliar possíveis adequações, levando em consideração os recursos necessários de acordo com a área de atuação. “Os softwares de gestão de identidade passarão a ser chave para o ambiente de colaboração e a interação funcionar”, avalia Heiti, da Philips. Outro grande desafio não tem nada a ver com tecnologias – mesmo porque elas vão evoluir. “Um enorme dilema é o lado cultural. Esta geração traz idéias inovadoras, mas como faremos a gestão dos novos padrões?”, alerta o CIO.

Paradigma cultural

Ainda que os integrantes da geração Net sejam confidentes, criativos, independentes e tenham mente aberta, eles tendem a ser um grande desafio para gerenciar, na visão de Don Tapscott. “Eles gostam de autonomia, mas precisam receber dicas de como está indo o trabalho e o desempenho para, não só corrigir alguma coisa, mas principalmente porque são ‘movidos a elogios’ e adoram ser reconhecidos”, explica o professor de gestão de pessoas e da Fundação Getúlio Vargas, João Baptista Brandão. (Leia artigo exclusivo de Brandão.)

Como tendem a se identificarem mais a vínculos que cargos, projetos acabam os atraindo mais. Justamente por esta razão, estes jovens obrigam as companhias a repensarem seus padrões e estruturas de remuneração. “Tem organizações que já especificam no cargo o que é esperado, de tal maneira que as pessoas tenham liberdade de opinar e melhorar a forma pela qual são valorizadas”, exemplifica Brandão, destacando que a remuneração por desempenho aparece como uma das formas mais aceitas por este grupo. “Desenvolvemos competências por projetos e por processos”, detalha Eliane, da Accor Services, uma companhia aonde esta realidade já chegou. Com cerca de 60% dos funcionários entre 21 e 35 anos, a companhia viu aumentar o número de pessoas que passa uma temporada de alguns anos em uma filial em outro país. “Tínhamos uma pessoa por ano e, em 2007, foram 12 funcionários”, destaca.

A turma Y está mais focada em sua própria carreira e desenvolvimento. A orientação por processos é outra tendência que surge ao se analisar o que motiva esta talentosa geração. Mas por trás disto há uma questão de sobrevivência. Como o tempo médio de permanência deles nas empresas é bem mais curto se comparado a seus antecessores, estabelecer metodologias pode ser a salvação para a memória da corporação. “Eu tenho 21 anos na Accor, guardo o histórico da companhia na minha cabeça, o que não ocorre com a geração Y”, conta Eliane, que já respondeu também pela TI e área comercial.Todas as mudanças trazidas por esta geração terão, sim, impactos nas companhias. Seja na parte de segurança, uma vez que novas tecnologias requerem níveis mais sofisticados de proteção; no aumento da qualidade do service desk, já que os novos usuários vão argumentar os porquês de cada uma das regras; ou na forma de se exercer suas funções. E aí entram os mecanismos para proporcionar o trabalho remoto, os integrantes da geração Y logo verão seus anseios acatados – ou não – pelas companhias. Para as corporações, resta o desafio de equacionar as novas demandas com a atual estrutura, de forma a não perder identidade, valores e cultura. Porque os desafios de conciliar os desejos dos jovens com a estrutura da organização não terminam na Y (ou Net ou Millennium).

Fonte: http://www.itweb.com.br/noticias/index.asp?cod=49283

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