segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Em nome do Plus

Por Tatiana de Mello Dias

Google sacrifica o Reader e muda a cara dos seus serviços. Tudo para fazer sua rede social sair da fase beta, em que milhões estão cadastrados, mas nada acontece

“Eu ainda estou arrasada”, reclamou a arquiteta Karine Tito, 33 anos, no dia seguinte à mudança que o Google fez em seu popular leitor de RSS, o Reader. “Acho que não tinha me tocado das mudanças e fui pega de surpresa.”

Não foi por falta de aviso. O Google anunciou em seu blog que o Reader mudaria. De cara, o visual: ele ficaria mais limpo e com a barra preta superior, que passou a permear todos os produtos. E, mais além, as funções: perderia as ferramentas de interação social – compartilhar, gostar, comentar – para se integrar ao Plus. “Tirar as ferramentas de compartilhamento do Reader não foi uma decisão fácil, mas ajuda a focar em menos áreas, e a construir uma experiência menor através de todo o Google”, diz a empresa.

A mudança no Google Reader foi a mais dolorosa entre as várias que vêm acontecendo na integração dos produtos ao Plus. O esforço é tornar o mantra da empresa – de que o Plus não é uma rede, mas uma “camada social” que permeia toda a web – uma verdade para seus usuários. Aos poucos, tudo está ganhando a cara do Plus e o botão +1, o Curtir do Google. “O Plus é o Google em si. Estamos estendendo-o para tudo o que fazemos: busca, anúncios, Chrome, Android, mapas, YouTube. Cada um deles contribui para o nosso entendimento de quem você é”, disse à Wired Brad Horowitz, diretor responsável pelo Plus. Para ele, os usuários precisam paciência porque o serviço está sendo construído. E as últimas semanas têm sido cruciais nessa construção. Além da integração com o Reader, o Gmail também mudou para ficar mais parecido com o Plus. E a rede ganhou novas funções.

O Ripples, por exemplo, é uma maneira de visualizar o caminho de uma postagem pública – ele deixa claro o potencial de compartilhamento da rede e sua complexidade. Outra é o Creative Kit, ferramenta de edição de fotos online. O YouTube também foi para dentro da rede – é uma pequena aba do lado direito com um formulário para pesquisar vídeos. E, por fim, o Google criou o “What’s Hot no Google+”, stream (uma lista) com os posts mais populares na rede no momento. “Estamos definitivamente em uma corrida de ferramentas, e eu acho que vamos correr essa corrida. Se eu tivesse que dizer qual fração do Google Plus foi lançada até agora, eu diria que há apenas a fundação mais básica. Perfis, editor de círculos e stream, que é uma espécie de conjunto mínimo de recursos que você precisa para começar a fazer coisas interessantes”, diz Horowitz.


Ecos. A partir do Ripples dá para ter uma ideia do que o Google quer fazer com sua nova rede social – tornar todos seus usuários, de uma forma ou de outra, interligados entre si. A ferramenta gera um gráfico em que é possível medir o nível de conexão entre os cadastrados no Google Plus.

O Plus tem cerca de 40 milhões de usuários. Foi a rede social com o maior crescimento na história – tinha 20 milhões de usuários apenas dois meses após seu lançamento. Só não se sabe são eles são realmente ativos.

Empresas vendem pacotes de adição de usuários e até de +1s. “Você pode comprar desde 50 recomendações até o máximo de 2 mil”, propagandeia o site da empresa Plussem. Eles garantem que tudo é feito lentamente, por IPs diferentes, para que “ninguém possa dizer que as recomendações foram compradas”.

“O Plus se baseia na interação autêntica entre pessoas reais. Nós não cobramos para usá-lo e sugerimos cautela em situações nas quais qualquer organização ou pessoa intenta em cobrar pelo uso de nossos serviços”, limitou-se a dizer o Google Brasil.

O Google reconhece dois problemas opostos no uso da rede: o silêncio e o barulho no stream. Uma possível explicação para o primeiro é o fato de haver duas vezes mais postagens privadas do que públicas. É por isso, diz Horowitz, que as pessoas entram no site e não voltam. “Eles estão compartilhando com pequenos grupos”, diz. O outro problema, segundo ele, é o “stream barulhento”, em que poucas pessoas dominam a conversa. É esse o maior desafio deles agora.

Ele diz que os números que apontam uma suposta queda de usuários do Plus são baseados em “dados errados”. “Temos o nosso próprio painel de controle, que dá uma indicação clara do comportamento do sistemas e do que precisamos fazer para melhorá-lo”, diz Horowitz, garantindo ter aprendido com o fracasso do Google Buzz, que será desativado em fevereiro.
Jon Evans, colunista do TechCrunch, escreveu no mês passado o texto “Eu acredito no Google Plus”, em que enumera as funções em que a rede é superior ao Facebook (compartilhamento de fotos, chats em vídeo) e elogiou a rede do Google por privilegiar a curadoria pessoal (no lugar dos algoritmos que ditam o feed de notícias do Facebook).

O fato é que só o surgimento da rede do Google já fez o Facebook se mexer: a rede mudou suas opções de privacidade, melhorou a ferramenta de grupos e incluiu a opção Compartilhar entre as ferramentas de interação. Mas o G+ ainda é restrito aos early adopters e nichos específicos. A arquiteta Karine diz que agora se sente obrigada a usar o Google Plus. Com o tempo, a mudança pode se tornar uma boa estratégia para alavancar a rede social ou um tiro no pé que sepultará outro produto do Google.

Fonte: http://blogs.estadao.com.br/link/em-nome-do-plus/

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